O yoga é uma tradição indiana que utiliza um conjunto de práticas psicofísicas e seu uso é aconselhado para os sistemas nacionais de saúde em todos os países membros da Organização Mundial da Saúde. No Brasil, o yoga foi inserido recentemente no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Portaria 719, de 7 de abril de 2011, que criou o Programa da Academia de Saúde. Nos termos da portaria lê-se em seu artigo 6 que “serão desenvolvidas as seguintes atividades no âmbito do Programa Academia da Saúde: I – promoção de práticas corporais e atividades físicas (ginástica, lutas, capoeira, dança, jogos esportivos e populares, yoga, tai chi chuan, dentre outros)”.
Patanjali, no século II a.C. sistematizou o yoga em oitos passos, a saber: 1) yama, as abstinências (não violência, veracidade, honestidade, não perversão do sexo, desapego); 2) niyama, as regras de vida (pureza, harmonia, serenidade, alegria, estudo); 3) ásanas, as posições do corpo; 4) pranayama, o controle da respiração; 5) pratyahara, o controle das percepções sensoriais orgânicas; 6) dharana, a concentração; 7) dhyana, a meditação; e 8) samadhi, a identificação.
No entanto, atualmente predomina o hatha-yoga, mais associado aos ásanas (posturas corporais), que data do período que abrange os séculos VII a XII e se apresenta com uma infinidade de nuanças e estilos nos dias atuais. Muitas vezes, a prática é utilizada apenas como opção terapêutica para determinados sintomas ou patologias, não sendo explorado seu potencial de produção de autoconhecimento e sua contribuição para o estímulo aos hábitos saudáveis.
Embora o conceito de yogaterapia tenha sido cunhado pelo Swami Kuvalayananda, em 1924, na Índia, grande parte das pesquisas sobre yoga na saúde atualmente provém dos Estados Unidos. Uma importante referência é o professor David Eisenberg, de Harvard, que coordenou um estudo sobre o perfil dos usuários do yoga, as razões médicas para o seu uso e as percepções sobre os benefícios que a prática proporciona, usando uma amostra de 31.044 pessoas nos Estados Unidos. Os resultados apontam que o uso do yoga em 1992 tinha uma prevalência de 3,7% na população americana e em 2002 sobe para 5,1%, que corresponde a 10,4 milhões de adultos. Os praticantes são na sua maioria brancos, mulheres, jovens com idade média de 39.5 anos e com formação universitária. As três razões médicas para a prática de yoga foram problemas musculoesqueléticos, saúde mental e asma.
Siegel e Barros pesquisaram as referências bibliográficas no Medline-Pubmed usando a palavra-chave “yoga”. A primeira pesquisa cobriu o período de 1999 a 2004 e nestes cinco anos foram encontrados 144 artigos, distribuídos em diferentes categorias de publicação, como carta, editorial, revisões etc. Do total de artigos, 70% consideraram o yoga como uma ferramenta útil para a saúde, com destaque para o cuidado de pessoas com doenças cardíacas, estresse, asma e com necessidade de cuidados paliativos. A segunda busca no Medline-Pubmed abrangeu o período de 2005 a 2007. No total, foram encontrados 99 novos estudos e em 74 deles (74,74%) o yoga é considerado benéfico e/ou promissor como técnica para aliviar dor e o estresse, aumentar a autoestima, favorecer o autocuidado, a promoção da saúde, a qualidade de vida e a cura.
Segundo Siegel e Barros, entre os principais benefícios do yoga para o campo da saúde observa-se: a) contribuições físicas: o encorajamento de dietas mais saudáveis e a consciência corporal, especialmente para o envelhecimento e as doenças crônicas; b) contribuições filosóficas: desenvolvimento da capacidade contemplativa e expansão da percepção da totalidade, que constituem a base do movimento holístico ou a noção do cuidado integral (dimensões biológica, psicológica, sociológica e espiritual); e c) contribuições sociais: associadas à construção de uma nova sociabilidade: i) desenvolvimento de cultura de paz (prática da não violência) e estilos de vida e valores que promovem uma maior tolerância entre grupos étnicos, gêneros e classes sociais; ii) reeducação de hábitos associados com os vícios legais (medicação, alimento, álcool, tabaco, trabalho, sexo, etc.) e ilegais (drogas ilegais, jogo, etc.). Dessa maneira, é clara a relação da filosofia do yoga com a Promoção da Saúde, sendo sua grande contribuição a oferta de formas de cuidado para condições crônicas relacionadas a fatores físicos e psíquicos, para as quais os recursos do modelo de cuidado biomédico têm alcançado pequenos resultados.
O yoga também tem sido aplicado com bons resultados na área laboral, com diferentes desenhos de programas, principalmente em: redução do estresse, qualidade do sono e variabilidade do ritmo cardíaco; no fortalecimento da vitalidade em profissionais que trabalham em hospitais; estresse laboral, ansiedade e humor em trabalhadores de período integral; e fitness funcional e flexibilidade.
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Artigo original: https://www.scielo.br/j/csc/a/4ZSqcXDmvfXGtbSkB8hw73v/